É no mínimo contraditório, para não dizermos mentiroso, o argumento da baixa de vendas, invocado pela Administração do Centro de Produção de Mangualde da PSA, para acabar com o terceiro turno e despedir 350 trabalhadores.
Em 21 de Setembro de 2011, no dia em que retomou a laboração, depois da famigerada “crise da falta de parafusos”, que reteve os trabalhadores 5 dias em casa a contar para a “Bolsa de Horas”, Elísio Oliveira, Director Financeiro do Centro de Produção de Mangualde da PSA, em declarações à comunicação social afirmava: “Para 2012, perspectivamos um ligeiro aumento, tanto no número de veículos produzidos como no volume de negócios”. Lembrar, que o volume de negócios do C.P. de Mangualde foi de 57 milhões de euros, ultrapassando largamente os máximos de 2010, quer em veículos produzidos, quer em lucros obtidos.
Mas se Setembro nos pode parecer uma data longínqua, vejamos o que o mesmo Director Financeiro disse ao jornal Público, no dia 5 de Janeiro de 2012, quando o Governo PSD/CDS anunciou o corte de benefícios fiscais à PSA/Mangualde: “A fábrica emprega 1.250 trabalhadores, produz 250 veículos por dia, 97% para exportação. O Centro de Produção de Mangualde retomou a sua vitalidade e ultrapassou a crise”. Bastou um mês, para a Administração da PSA mudar o cenário e tirar da gaveta “a crise”, para acabar com 350 postos de trabalho.
A “crise” é, pois, um mero e esfarrapado pretexto. Do que se trata, realmente, é da utilização dos trabalhadores como carne para canhão, num jogo de chantagem política/económica de que eles são as únicas vítimas. Em Outubro de 2010, o Governo PS e o Presidente da Câmara de Mangualde, garantiam a pés juntos, aos trabalhadores e à população, que tinham “criado na Citröen mais 350 postos de trabalho”, justificando com isso um novo apoio do Governo de 21 milhões de euros à PSA-Mangualde. Tal como na altura o PCP denunciou, tratou-se de uma acção propagandística para credibilizar o governo Sócrates. Hoje é o governo PSD/CDS que lava as mãos, como Pilatos, não mexendo uma palha, para obrigar a PSA a respeitar a manutenção dos postos de trabalho e os acordos firmados. Estão bem uns para os outros.
Resta aos trabalhadores lutar. Só lutando se defendem os postos de trabalho. É preciso reagir contra a exploração e a arbitrariedade do Governo e da Administração da PSA-Mangualde. Os trabalhadores devem organizar-se em torno do seu Sindicato e da Comissão de Trabalhadores, para fazerem frente a mais esta injustiça.
Não contentes com o rol de exploração exercida sobre os trabalhadores do terceiro turno, a Administração do C. P. de Mangualde, pretende ainda descontar nos salários de miséria que lhes paga, o tempo da “bolsa de horas” por cumprir. Os trabalhadores não devem nada à PSA. A PSA é que deve aos trabalhadores condições de trabalho e salários condignos.
Como noutros momentos no passado, também nesta situação, podem os trabalhadores contar com o apoio firme e permanente do PCP. Tal como fez ontem com o Secretário de Estado em comissão, hoje mesmo, o nosso Grupo Parlamentar na Assembleia da República vai questionar o Governo, através do Ministro da Economia, sobre o que pensa este fazer para evitar os despedimentos na PSA-Mangualde, que, a concretizarem-se, acarretarão graves consequências sociais para o Concelho e para a região.
O Grupo PSA-Mangualde que, através da exploração dos baixos salários, da “bolsa de horas”, da desregulação dos horários, do reduzido pagamento do trabalho suplementar obteve em 2011 lucros recorde, tem agora a obrigação social de manter os postos de trabalho.
A Administração da PSA anunciou a concretização destes despedimentos para 28 de Março. Até lá, para além das lutas específicas a travar, os trabalhadores da PSA-Peugeot/Citröen têm oportunidade de mostrar o seu protesto, já no próximo dia 29, na Jornada Europeia de Luta, que terá em Viseu uma Concentração às 16,30 horas, frente à Segurança Social. E também no dia 22 de Março, dia de Greve Geral contra as leis do trabalho, aprovadas na Concertação Social, que pretendem liberalizar os despedimentos sem justa causa, a redução dos períodos e valores de indemnização visa legitimar as “bolsas de horas” e outras malfeitorias. Esta é a hora de lutar. Antes que seja tarde.
Mangualde, 22/02/2012
A Célula do PCP do C. P. de Mangualde da PSA-Peugeot/Citröen