O anúncio da “criação de 300 postos de trabalho”na PSA-Mangualde é demagógico, mentiroso e populista. Destina-se a desviar a atenção dos trabalhadores e da opinião pública das graves responsabilidades do Partido Socialista e da Administração da empresa na perda recente de mais de 600 postos de trabalho no Centro de Produção de Mangualde e a esconder a cobertura que o Governo do PS tem dado à ilegal “bolsa de horas” na empresa e ao aumento desenfreado da exploração dos trabalhadores, nesta unidade fabril.

 

Os arautos da “notícia” não esclarecem um conjunto de legítimas dúvidas. Por exemplo: quem, a 600 despedidos, soma 300 contratados, quantos postos de trabalho cria? Quem vai contratar os 300 trabalhadores, a PSA ou uma empresa de aluguer de mão de obra? Que salário e subsídios vão estes trabalhadores auferir? Quem vai fazer o “turno da noite”? Quantos vão ficar na empresa, terminados os 6 meses de contrato? Uma única certeza: quem vier a ser contratado sabe que o trabalho vai ser precário e temporário, uma espécie de “carne para canhão” para servir os objectivos imediatos de exploração e lucro da empresa.

Em vez da publicidade enganosa de “criação de postos de trabalho”, os dirigentes locais do PS prestariam um verdadeiro serviço aos trabalhadores se questionassem a Administração da PSA, sobre o facto, desta manter a funcionar no C.P. Mangualde a ilegal “bolsa de horas”, medida que priva os trabalhadores da remuneração do trabalho prestado ao seu abrigo. Ou, ainda, se esclarecessem o escândalo de a ACT distrital (Autoridade para as Condições do Trabalho) reconhecer a ilegalidade da “bolsa de horas”, mas confessar não ter “força política” para obrigar a empresa a acabar com ela.

Vem nesta linha a resposta que a Ministra do Trabalho deu à pergunta sobre o assunto formulada pelo Grupo Parlamentar do PCP, na Assembleia da República: “O Banco de Horas implementado (diz a Ministra) foi justificado (pela PSA) com o facto de este mecanismo ter sido a única alternativa viável a um despedimento colectivo”. Mentirosos.

Como se os 600 postos de trabalho alienados neste processo, não fossem, na realidade, um despedimento colectivo… E agora que se anuncia a entrada de 300 trabalhadores, que argumento vai utilizar a PSA para manter esse mecanismo de sobre exploração?

Não admira esta postura de subserviência do Governo PS e dos seus dirigentes locais. Foi o Governo PS quem deu à PSA Peugeot-Citroen, em 2007, para investimento no C.P. de Mangualde 8,6 milhões de euros, com o compromisso escrito desta manter 1.400 postos de trabalho até 2.013. Onde é que eles param? Foi o Governo PS/Sócrates que agora disponibilizou mais 21 milhões de euros para novos investimentos. Quais as contrapartidas? Foi ainda este Governo quem isentou do pagamento de impostos, até 2013, a PSA Peugeot-Citroen. Quantas empresas de Mangualde auferem destas benesses?

Os aumentos de produção de 36% anunciados pela PSA-Mangualde nos primeiros meses do ano resultam directamente da aceleração dos ritmos de trabalho, da desregulação dos horários, da degradação da remuneração dos trabalhadores por força da aplicação da “bolsa de horas”. O dinheiro a menos que os trabalhadores, hoje, levam para casa, vai direitinho para os bolsos dos accionistas e dos administradores da PSA. Não fica em Mangualde nem no País. E o PS bate palmas.

O PCP é pelo investimento e pela criação de postos de trabalho, única forma de ultrapassar a crise em que os governos e as políticas de direita mergulharam Portugal. Mas somos contra o aproveitamento da “crise” para retirar direitos aos trabalhadores, degradar as suas condições de vida e de trabalho, aumentar a exploração. Os trabalhadores podem sempre contar com o PCP para combater as ilegalidades e lutar por uma política de esquerda ao serviço do povo e do país.

Mangualde, 28 de Julho de 2010

A Célula do PCP no C.P de Mangualde da PSA-Peugeot-Citroen