Regressa o Senhor Presidente à tese do “triângulo virtuoso” da acção municipal, para elogiar o mérito das políticas imateriais que leva a cabo. Como munícipe não posso deixar de me congratular com tudo o que possa contribuir para a melhoria das condições de vida e bem estar dos habitantes do concelho. Como eleita municipal, é minha obrigação trazer ao debate o outro lado da notícia, a opinião do cidadão comum, as propostas e visões alternativas.
Não tenho dúvidas de que é muito importante para a generalização do acesso à prática desportiva a renovação de campos de jogos, pavilhões e outros equipamentos. Mas falta uma estratégia municipal integrada de construção de novas estruturas, que dotem o concelho de capacidade de resposta às necessidades de desenvolvimento desportivo e à promoção de eventos nacionais a partir de dinâmicas locais próprias. Viseu necessita há muito de um Centro Municipal de Desportos que acolha as mais variadas modalidades desportivas, que reúna condições para a realização em espaço coberto das diferentes modalidades de atletismo e que integre a imprescindível e permanentemente adiada construção de uma Piscina Olímpica, para uso público e treino e competição dos nossos valorosos atletas.
Não sabemos quanto vai custar ao Município a efémera etapa da Vuelta a Espanha. Do que temos a certeza é que representa uma vaidade inútil e que não irá contribuir para a existência de um Velódromo no concelho, que possa ser escola dos amantes desta modalidade e incentivo para eventos ligados à prática continuada do ciclismo.
O Viseu Cultura disponibilizou para os projectos apoiados nos últimos 2 anos 1,5 milhões de euros. Engrossa a voz o município a dizer o número, para que pareça gigante. Afinal é pouco mais de 1% do Orçamento municipal deste período e está muito aquém dos milhões de euros arrecadados pela Viseu Marca. Com efeito, esta Associação criada pelo município para a realização de eventos, mas na qual só detém 48%, apresenta como resultado líquido do exercício a verba de 1 milhão, novecentos e vinte e três mil e setenta e um euros e setenta e seis cêntimos. Não sabemos de onde provem este lucro fabuloso, porque não conhecemos as contas, mas é fácil adivinhar que o saldo financeiro positivo da Viseu Marca, resulta da subsidiação proveniente do Município e do monopólio que lhe foi concedido para a promoção de eventos lucrativos, como a Feira de S. Mateus. Se a Viseu Marca fosse uma empresa municipal o seu resultado financeiro líquido, permitiria quadruplicar anualmente os apoios aos projectos da Viseu Cultura.
Nas actividades da Viseu Cultura e da Viseu Marca, não cabe a organização de eventos e espaços evocativos de uma das figuras mais marcantes e icónicas do ”Fado Património Imaterial da Humanidade”, como é o viseense Augusto Hilário, cujo 156º aniversário do nascimento passou a 7 de Janeiro último e o 124 aniversário da sua morte se celebra a 3 de Abril próximo. Importante, importante, para o desenvolvimento sustentado do concelho e a promoção dos seus valores culturais é a participação na Fitur, ao lado do João Félix.
Viseu Património vai desvendar agora os mistérios insondáveis da Cava de Viriato. Que sejam bem sucedidos. Entretanto, 2 terços do espaço da Feira de S. Mateus são utilizados apenas 5 semanas por ano, estando votados ao abandono sítios nobres do terreiro como o da Fonte de várias bicas ali existente, que não tem torneiras, não tem água, não tem iluminação. Obscuridade que se estende ao espelho de água e zonas adjacentes. A insegurança provocada pela falta de luz, desmotiva os muitos transeuntes a frequentar esse passeio ribeirinho singular, que se estende até à zona da Federação dos Vinhos e que devia merecer, esse sim, a atenção permanente e a realização regular de visitas guiadas por parte do município. A atração de turistas faz-se essencialmente pela oferta diferenciadora das iniciativas culturais genuínas, da harmonia e cuidado com os monumentos, as paisagens e os espaços público. A gastronomia e a simpatia, essas, são qualidades endógenas.
Quando se fala da Viseu Património vem à baila, o papel desempenhado por este programa na recuperação do Centro Histórico. Mensura-se o valor dos edifícios “transacionados” e enaltece-se a quantidade dos “recuperados”. Só não há é escala municipal para medir os níveis de bem estar e de tranquilidade do património mais valioso que o Centro Histórico possui, os seus moradores. Só quando a comunicação social vai dando algumas notícias do ambiente de verdadeiro faroeste em que se transformaram muitas das noites dos fins de semana do Centro Histórico é que o município promete tomar medidas. Enquanto isso, os bares, mesmo sem licença, podem fazer dos seus espaços discotecas até às seis e sete da manhã, que não há regulamento do ruído que os impeça ou presença policial que dissuada os desordeiros.
Neste contexto o “abarracamento” ou “estufa fria” do 2 de Maio, como também já lhe chamam, modelo estético daquilo em que querem transformar a obra de Sisa Vieira, acaba por ser paradigmático da qualidade do que vai acontecendo no Centro Histórico. Desde Dezembro que a tenda dos eventos da Câmara está montada no local, enclausurando as Magnólias, que por falta de água da chuva, porque a rega gota a gota já há muito foi intencionalmente desligada, estão em stress freático e condenadas ao definhamento. Viseu Património? Que património?
Viseu, 28 de Fevereiro de 2020
A Eleita da CDU Assembleia Municipal de Viseu
Filomena Pires