A Mazur é uma empresa têxtil do concelho de Mangualde, distrito de Viseu, que foi fundada em 1986. Nela trabalham mais de duas centenas de trabalhadores, na sua esmagadora maioria mulheres.
Apesar de se gabar no seu sítio na Internet de ter «agora clientes em Portugal, Espanha, Grécia, Lituânia, Líbia, Marrocos, Inglaterra e Escandinávia», a empresa está desde 2016 em Processo Especial de Revitalização (PER) e contínua endividada.
Esta empresa é mais um exemplo de até onde, neste momento de emergência, sectores patronais estão dispostos a ir para espezinhar direitos dos trabalhadores, escudados nos propositadamente confusos diplomas do governo.
No final do mês de Fevereiro a Mazur só pagou metade do salário desse mês. No dia 13 de Março a empresa foi vítima de um estranho assalto, com contornos rocambolescos e suspeitos, cujo resultado foi o roubo de 1.517 casacos, material têxtil avaliado pela administração em cerca de 150 mil euros, e duas viaturas de transporte de mercadorias.
Apesar do roubo, na semana de 16 a 19 de Março, as trabalhadoras tiveram que fazer cerca de 1.500 golas de pelo para aplicar nos casacos, como constava da encomenda. Estranho…!
No dia 19 de Março as trabalhadoras e os trabalhadores receberam uma carta em que se informava que a empresa «ia suspender temporariamente a sua actividade», ficando as trabalhadoras dispensadas «de comparecer ao serviço, sem perda de regalias ou direitos, pelo período compreendido entre o dia 20/03 e o dia 31/03, incluídos, sem prejuízo de, nessa data, a situação ser novamente revista conforme a evolução pandémica».
Nesse mesmo dia foi pago o restante do salário do mês de Fevereiro. As trabalhadoras também foram informadas que as máquinas eram “emprestadas” e iam ser devolvidas de imediato aos seus donos. Tal “empréstimo” era completamente desconhecido. No dia 31 de Março, data anunciada de regresso ao trabalho na Mazur, as trabalhadoras vão trazer de casa a sua máquina de costura ou a administração da Mazur entretanto vai pedir “máquinas emprestadas aos vizinhos”?
Estamos perante uma encenação manhosa e criminosa, que pretende esconder um descarado encerramento e despedimento colectivo ilegal. Com esta manobra, facilitada pela lei da selva em que o alinhamento de classe do Governo está a transformar as relações laborais, a Administração da Mazur pretende fugir ao legal pagamento aos trabalhadores das retribuições pecuniárias que lhes são devidas pelo eventual encerramento.
O PCP, através do seu Grupo Parlamentar na Assembleia da República, vai questionar o Ministério do Trabalho sobre esta grave situação, ao mesmo tempo que exige a imediata intervenção da Autoridade das Condições de Trabalho (ACT), para que salvaguarde os direitos dos trabalhadores e obrigue a entidade patronal a cumprir a suas obrigações. Este tipo de actuação não pode ficar impune. O PCP, ao mesmo tempo que apela às trabalhadoras da Mazur, para se unirem e lutarem organizadas em defesa dos seus postos de trabalho e direitos, afirma a sua solidariedade activa e empenhada, que se manifesta na prática, nas horas boas e nas horas más.
Os direitos não estão de quarentena, suspensos ou liquidados.
Esta é a hora de lutar e de os defender!
A Comissão Concelhia de Mangualde do PCP