Salvaguardadas as devidas proporções históricas, a caricata cena de “beija-mão” protagonizada pela Câmara de S. Pedro de Sul em relação ao Ministro da Saúde, assemelha-se pelo ridículo ao juramento de fidelidade da “brigada do reumático” perante Caetano. O ministro caiu poucos dias depois da cena de vassalagem e servilismo do executivo sampedrense, o ditador foi-se passado um mês com o 25 de Abril.
Vendo pelas ruas da amargura o seu prestígio local de autarca, o Presidente da Câmara de S. Pedro do Sul, com o sentido de oportunidade que se lhe reconhece, quis chamar a si o mérito pelo hipotético recuo do ministro quanto ao SAP. Tirou para o efeito da cartola mais um dos seus já famosos números de magia política, aproveitando bem as hesitações e contradições geradas no PS pelo encerramento nocturno do SAP de S. Pedro de Sul. Com base numa mera promessa do Ministro quanto à futura instalação no Concelho do Serviço de Urgência Básico (SUB), fez aprovar por unanimidade em reunião do Executivo a atribuição ao Ministro da medalha de ouro do município, dando disso conta aos munícipes, em carta colorida paga pelo erário público.
Para justificar a atribuição do galardão não poupou nos encómios, afirmando de certeza certa que o povo de S. Pedro do Sul ficaria eternamente grato ao ministro pela decisão. Que decisão? A única que o povo conhece é a do encerramento nocturno do SAP. A medalha era para agradecer este atentado à qualidade dos cuidados de saúde prestados à população? E o SUB não esteve desde sempre previsto no Relatório da Comissão Técnica de Apoio ao Processo de Requalificação da Rede de Urgência Geral e não foi Correia de Campos como ministro que encerrou o SAP no período nocturno antes de instalar o SUB? E o novo Centro de Saúde … quem o retirou do PIDDAC, não foi este Ministro e este Governo? Que feito extraordinário justifica então a “medalha de ouro”?
Apenas o oportunismo bacoco do Presidente da Câmara secundado pela obsequiante e subserviente vereação do PSD/PS, que não olham a meios para esconder do povo o atoleiro em que mergulharam as finanças do município.
Esta tentativa de dar mérito a um ministro e uma política desacreditados pelo protesto das populações, não se importando para isso de atraiçoar a luta de concelhos vizinhos, mostra bem o carácter demagógico e arrivista de quem o promove.
Como sempre a vida, na sua imensa sabedoria, encarregou-se de pôr as coisas no seu devido lugar. A demissão do Mnistro deixou assim “órfãos” os medalhísticos vereadores, agora a braços com falta de cachaço onde dependurar a medalha.
N.B. – E como é que uma Câmara a quem ninguém fia um prego ia arranjar dinheiro para comprar a medalha de ouro?