Neste “campeonato quixotesco” em que a Câmara de Viseu se entretém, e nos distrai, a disputar prémios inúteis comprados para alimentar publicas vaidades e a imagem de uma “Happy and Smart City” virtual, não sobra tempo nem vontade para descer à terra e auscultar e resolver os problemas reais das populações do concelho.
É por isso uma pena que a Intec (Instituto de Tecnologia Comportamental), entidade privada a quem a Câmara de Viseu pagou 1.722 euros para candidatar o Projecto MUV, não tenha vindo ao terreno avaliar a realidade. Se se desse a esse trabalho e não tivesse, como tem, a missão única de atribuir “prémios” por encomenda, a Intec tomaria nota do descontentamento generalizado dos utentes com o mau serviço prestado pelo MUV.
De facto, o que consta do Projecto inicial do MUV discutido nesta Assembleia, são cenários idílicos que todos gostaríamos de ver implementados. O que a prática e os testemunhos dos utilizadores nos mostram é um funcionamento completamente ao contrário, sem correspondência aproximada com o Projecto.
Dos abundantes relatos que me chegaram, conta-se que os atrasos e os adiantamentos nos horários são permanentes, com graves transtornos para a vida dos utilizadores. Na sua génese está uma errada definição do tempo dos percursos, a começar pelo dos autocarros que saem da Central de Camionagem, situação agravada pela não existência na cidade de “corredores” BUS que permitam a circulação prioritária dos autocarros sem contratempos nas frequentes filas de trânsito. As prometidas aplicações para telemóvel e I.PAD, da responsabilidade do Município, que deveriam estar ativas nas paragens para “sabermos a todo o tempo onde se encontra o autocarro”, não existem, são um logro. Os simples mapas dos horários com itinerários e horas de partida e chegada nos diferentes percursos foram banidos da maioria das paragens. O transporte “on demand”, estratégia dita “revolucionária de combate à desertificação para as freguesias de baixa densidade” sem serviço regular do MUV, é uma mistificação. Moradores de localidades como Barbeita, Corvos à Nogueira, Pinheiro ou pais e alunos da escola do Viso, interpelaram-me perguntando porque não são servidas pelo MUV. Também me chegou informação de que os autocarros novos que servem a linha de Bodiosa, na maior parte dos dias são insuficientes para o número de passageiros que neles quer viajar, recorrendo a empresa a autocarros velhos para suprir as falhas. Pelo menos no circuito 21 e 10, o anunciado aumento do número de linhas é feito pelo mesmo autocarro. A aquisição de bilhetes pré-comprados só é possível de efetuar na Central de Camionagem.
Pelo que acabo de descrever e não é um relato exaustivo, este prémio atribuído ao MUV de que tanto se ufana é um embuste. Prémio, a existir, é para a paciência e civismo dos cidadãos deste concelho que sofrem com este caos organizado.
Por ser “época de Natal”, deixa o Sr. Presidente um convite público para “todos visitarem” o efémero “Mercado de Natal no Mercado 2 de Maio”.
É um Convite paradigmático, que ilustra bem a ordem de preocupações que o animam. Não lhe ocorreu dirigir um apelo aos membros da Assembleia e aos munícipes do concelho para “visitarem” o Mercado 21 de Agosto, espaço permanente de atividade comercial da responsabilidade do Município, onde se amontoam vendedores sem o mínimo de condições para o exercício do seu negócio, onde o frio, as deficientes e degradadas condições do edificado, a falta de atratividade, afastam clientes e vencem a vontade dos resistentes. Talvez seja essa a estratégia municipal. Sendo Viseu o concelho do País com mais metros quadrados de grandes superfícies por habitante, para quê investir no mercado tradicional? Mas, senhor Presidente, agora “que é época de Natal” e de solidariedade, os comerciantes do 21 de Agosto, agradeciam a sua visita. Eles continuam à espera que vá inaugurar a “promessa” de novo Mercado que lhes fez em véspera de eleições, com enganosos e miríficos “projetos”.
Mas não, o Mercado 2 de Maio é que é. Tem pontualmente festas caras, luzes, música, vinhos, iguarias, vida social. E um fetiche. Não importa que se vá destruir a obra do arquiteto português mais famoso no mundo. Não interessa se comprovadamente as obras no Mercado 21 de Agosto devam ganhar primazia, no interesse da população, dos comerciantes e da vida económica da cidade. Não colhe junto do poder municipal a prova de que todos os eventos sazonais que se afirma pretender realizar no 2 de Maio podem ser acolhidos no renovado Mercado 21 de Agosto. Com a vantagem deste ter utilização diária, com a criação simultânea de condições físicas funcionais, modernas, para acolher os comerciantes atuais e outro comercio tradicional que ali se possa instalar, a par de eventuais serviços públicos.
Em Córdova, em 785, o Califa mandou erguer a Mesquita muçulmana, respeitando a antiga basílica visigótica cristã. Sinal de tolerância, elevação cultural e inteligência. Em Viseu, no século XXI, por mesquinho e mal disfarçado ódio ideológico e cegueira cultural, os novos bárbaros anunciam ir arrasar gratuitamente uma obra, por mais singela que ela seja, de Siza Vieira, prémio nobel da arquitetura, mestre e criador singular, reconhecido mundialmente. As entrevistas, filmes, documentários, prémios, homenagens de que está a ser alvo o Arquiteto Siza Vieira por toda a parte, do Japão à América, da Alemanha ao Brasil, da Coreia do Sul à Espanha, provam a grandeza e universalidade da sua obra. Ter uma obra de Siza Vieira, é sinal de modernidade e um orgulho para quem a possui. Menos em Viseu. Aqui, as placas acrílicas que os serôdios torquemadas afixarem com datas inaugurais, se a insanidade se consumar, apenas servirão para testemunhar a ignomínia do ato.
Viseu, 16 de Dezembro de 2019
A Eleita da CDU, na Assembleia M.unicipal de Viseu
Filomena Pires