Quis uma feliz coincidência, que esta Assembleia tenha lugar, na data precisa em que perfazem 121 anos sobre a morte de Augusto Hilário Costa Alves, ilustre cidadão viseense, figura icónica do fado e da academia de Coimbra, popularmente conhecido por: “Hilário”.
Dois dias após a sua morte, referia eloquente, um matutino: ”O Hilário morreu em 3 de Abril de 1896, às dez horas da noite, em Viseu, sua terra natal, estando em férias da Páscoa. A sua morte causou sensação em todo o País e o seu funeral teve aquela pompa solene que costuma derivar da celebridade do morto”.
No mesmo dia, outro jornal noticiava com pormenor: “O seu enterro realizou-se às 6 da tarde. O féretro foi conduzido pelos estudantes do liceu de Viseu e dos cursos superiores das diferentes escolas do país, que aqui vieram. A guarda de honra, porque o finado tinha honras militares como aspirante a médico naval, foi prestada por uma força do RI 14. Pronunciaram discursos, quando o corpo baixou à terra, um estudante do liceu da cidade, dois estudantes de Coimbra e o advogado Alberto Ponces. ”
Das crónicas da época retirei ainda as seguintes passagens, que elucidam o quanto era conhecido e estimado o vate do fado serenata da academia de Coimbra:
“Todos os jornais diários do país se referiram largamente a Hilário; alguns publicaram o seu retrato, esse conhecido retrato em que ele, de capa e batina, cabeça ao lado, olhos em êxtase, dedilha na guitarra um dos seus fados dolentes”. Outro jornal referia: “O académico Hilário era muito conhecido em todo o país pelos seus popularíssimos fados. Em Coimbra é sentidíssima a sua morte. A musa popular chorou compungitivamente sobre a campa do Hilário”.
Porque é dever dos vivos louvar os mortos que merecem ser lembrados; Porque existe uma dívida da cidade de Viseu para com Hilário, por desconhecimento, por desleixo ou preconceito;
Porque estudar, evocar, mostrar a figura e a obra de “Hilário” se reveste de importância cultural relevante, no momento em que o Fado anda nas bocas do mundo pela sua elevação a Património Imaterial da Humanidade.
Porque a correta valorização da figura de Hilário como filho de Viseu, pode e deve constituir uma mais-valia na estratégia promocional da cidade, atraindo por essa via, um vasto público nostálgico da vida académica coimbrã;
Proponho que o Município de Viseu, passe a evocar com iniciativas apropriadas, o dia 3 de Abril, como o dia de “Hilário”;
Que desenvolva com a Universidade e Academia de Coimbra, parcerias que conduzam a um melhor conhecimento da vida e da obra de Augusto Hilário e que em conjunto sejam promovidas iniciativas que evoquem a importância de Hilário para a canção de Coimbra, associando-o às suas raízes e vivências em Viseu;
Que seja dada mais visibilidade à figura de “Hilário” na toponímia e espaços públicos da cidade;
Que seja criada na zona histórica da cidade (não o podendo ser na casa onde nasceu e provavelmente faleceu Augusto Hilário) um espaço cultural evocativo com contextualização histórica de época, onde prevaleçam a importância de Hilário como referência determinante para a popularização, credibilização e características ainda hoje prevalecentes no fado serenata de Coimbra.
Viseu, 3 de Abril de 2017
A Eleita da CDU na Assembleia Municipal de Viseu
Filomena Pires