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Da leitura integral da Informação do Senhor Presidente à Assembleia, resulta uma conclusão imediata. Nesta gestão municipal, não há insuficiências, pontos negros, obras em atraso, incumprimento de promessas. Até algumas “maçãs podres” entre os funcionários a que em tempos aludiu o senhor Presidente, desapareceram. Mesmo que em cada “informação” constatemos a repetição de iniciativas, gabinetes, projectos que parecem novos, tudo aqui é bom e funciona às mil maravilhas. Desde as dinâmicas empresariais, à promoção do Concelho através da excelência dos seus vinhos, passando pela oferta cultural e os eventos desportivos comprados em pacotes. Qualquer iniciativa, seja ela pública, municipal, associativa ou privada, tem sempre o dedo omnipresente, amigo e multiplicador da Câmara. É um laudatório infindável de competências, estratégias brilhantes, dinâmicas de sucesso. Se não estamos no paraíso social e na presença da melhor gestão municipal do mundo é porque não está provado que o paraíso seja terreno e porque em muitas partes do mundo não há municípios.

Daí que, perante este triunfalismo militante, este rol avassalador de bem-aventuranças, confesse o meu constrangimento para falar de coisas mais terra a terra, da minha visão das coisas por outro prisma. Temo até que, se o fizer, me aconteça como no passado e seja acusada de “falta de seriedade”, de “ignorância”, de “cegueira política”, até de ser “comunista”, à moda de Viseu, é preciso distinguir, que é uma coisa feia e perigosa.

Indo ao conteúdo do documento, diria apenas que compilei dos jornais declarações dos administradores da “Natura”, antiga “Pextrafil”, que apontavam como causa directa de muitas das suas dificuldades actuais, a introdução de portagens na A25 pelo governo de que Vª Exª fez parte. Ao que parece, os principais clientes da “Natura” são espanhóis e o papel higiénico o seu principal produto de exportação. Pelo volume, tal requer muitos veículos para o transporte. Com preços baixos e o pagamento das portagens a actividade tornou-se inviável. Felizmente apareceu a “Pampilar”. Nisto dos negócios, há sempre um “anjo salvador”.

E lá vem outra vez a criação do Gabinete do Agricultor, que não passa de um mero entreposto da CAP em espaço cedido pelo Município. Um pouco ao jeito deste badalado apoio aos produtores de gado. Tanto quanto nos foi informado, do que se trata é de um subsídio atribuído à Associação de Criadores de Gado da Beira Alta, para que esta possa sustentar o imprescindível rastreio sanitário do efectivo pecuário dos seus associados, dado que até há bem pouco tempo o Ministério da Agricultura tinha em atraso o pagamento de vários meses desta actividade aos antigos Agrupamentos de Defesa Sanitária (ADS).

Neste sector, apoio efectivo e sustentado à produção pecuária era a construção no Concelho de Viseu do Matadouro Público. Não um matadouro de faz de conta, como foi noticiado, mas uma infra-estrutura de raíz que irradie para toda a região e seja estímulo determinante à produção e à actividade económica pecuária. É que, segundo dados da própria Associação de Criadores de Gado, que nos foram transmitidos directamente, curiosamente num dia em que o Senhor, então candidato, passou pelo “Leilão de Gado”, desde o encerramento do Matadouro desapareceram da região quase trinta mil cabeças de gado.

Sem local onde abater directamente as suas reses e sem apoios efectivos quando acontecem acidentes, como foi o caso dos produtores dos Coutos, que viram as suas ovelhas e cabras mortas por ataques de cães selvagens (ou lobos) e que até hoje não viram um cêntimo do prometido apoio municipal, para a reposição do efectivo, é natural que os criadores desistam.

A informação de que irá sujeitar a consulta pública qualquer projecto de intervenção no Mercado 2 de Maio é um recuo que saúdo, mas que não apaga a nódoa de querer destruir uma obra de Sisa Vieira, Arquitecto disputado pelas mais importantes cidades do mundo, que querem sobressair a partir da edificação dos seus projectos.

Entretanto, talvez para adiantar trabalho com vista à demolição, já se foi arrancando o sistema de irrigação gota a gota que alimentava cada uma das magnólias.

Convidou a SRU sete artistas para pintarem, através da chamada arte urbana, vários locais da cidade. Não importa quanto lhes pagou. O importante é que o trabalho ficou bonito. Nas paredes estão impressas verdadeiras obras de arte. A propósito deste evento, fui procurada por alguns jovens grafiteres do Concelho, que fizeram questão de que eu transmitisse a esta Assembleia o seu profundo descontentamento por não terem sido chamados pela Câmara a participar nesta iniciativa. Estes jovens, com idades entre os 15 e os 20 anos, não têm o curriculum dos artistas que convidou, é bom de ver, mas nunca o terão se não lhes forem dadas oportunidades para mostrarem o seu talento e poderem evoluir, aprendendo com os mestres. Eu sei que alguns dos artistas convidados estiveram nas escolas a falar da sua arte. Mas não é a mesma coisa. Deixo a proposta, para que na próxima edição do Street Art seja criado um espaço onde os jovens que praticam esta arte no Concelho de forma espontânea, sejam desafiados a criar obras originais, em total liberdade.

Por último e ainda relacionado com o Street Art, queria perguntar por que razão esta iniciativa saiu da programação dos Jardins Efémeros, como aconteceu em 2014, para aparecer numa iniciativa autónoma promovida pela SRU/Câmara Municipal? Esta alteração foi acordada com a promotora dos Jardins ou foi decidida unilateralmente pela Câmara?

Ainda a propósito dos Jardins, para um evento que o Senhor anuncia ir transformar Viseu na “capital da criatividade”, com um programa “muito contagiante e promissor” é estranho merecer na sua informação um tão curto parágrafo, com uma descrição tão contida e sumária, sem adjectivação eloquente, a condizer com a grandiosidade do que havia anunciado. Provavelmente, porque a informação já ia longa, guardará Vª Exª os justos encómios para a Informação à próxima Assembleia.

Ou talvez o citado parágrafo anuncie uma mudança de paradigma. Dizem os entendidos, e eu subscrevo, que moderação e realismo emprestam mais credibilidade à propaganda. Os excessos no auto-conceito, acabam, regra geral, por banalizar os êxitos.

Viseu, 29/06/2015

A Eleita da CDU na Assembleia Municipal de Viseu
Filomena Pires