Aguardando cinicamente que passassem as Eleições para o Parlamento Europeu, não fosse a notícia prejudicar os seus parceiros de “negócio” do Governo, Carlos Martins, patrão da Martifer, reuniu na passada Sexta-feira, dia 30 de Maio, os trabalhadores da Martifer Componentes, para lhes anunciar de viva voz que os ia despedir. A eles e a mais 500, do universo das suas empresas.
Rapidamente a ameaça passou a vias de facto e neste momento mais de 50 trabalhadores da Martifer Componentes já foram despedidos e os restantes sê-lo-ão nos próximos dias.
É da natureza do capitalismo a insensibilidade social e humana e quando este sente as “costas quentes” por governos serventuários, torna-se arrogante e brutal, não hesitando em recorrer à ilegalidade para atingir os seus objectivos de lucro a qualquer custo.
É o caso da Martifer, que está a despedir arbitrariamente trabalhadores sem que estes tenham terminado o seu contrato de trabalho com a empresa ou com a “Multipessoal” (a sua empresa de aluguer de mão de obra). Operários cujos contratos terminariam em Julho, Agosto, Setembro, já foram despedidos.
Com este expediente rasteiro a Martifer quer fugir ao compromisso que assumiu com os trabalhadores, transferindo para os Centros de Emprego e para a Segurança Social os custos que ela por força dos contratos está obrigada a suportar. Com esta tramoia, os trabalhadores vêem-se privados do seu salário por mais uns meses e do tempo respectivo que contaria para o subsídio de desemprego. Perante esta despudorada afronta á Lei e à dignidade de quem trabalha, o PCP desafia a Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT) a intervir de imediato pondo cobro aos desmandos da Martifer.
Com os outros trabalhadores do Grupo, a Martifer usa de chantagem, colocando-os entre o dilema do trabalho num qualquer país estrangeiro (que pode bem ser em Angola ou no Qatar, etc) ou o despedimento. É a impunidade e a sem vergonha a dar mostras daquilo para que serve a política de direita do Governo PSD/CDS.
Então não era a Martifer a “empresa modelo”, a de “rigorosa gestão”, a de “sólida estrutura empresarial e de sucesso económico”, como enfatizou o Ministro Aguiar Branco e os seus acólitos do Governo? Onde estão essas “qualidades” que ninguém as enxerga?
Ao contrário, o processo de falências e encerramentos de empresas do Grupo não pára. Fechou em Benavente, fechou estaleiros, fechou a Monobloco, em Oliveira de Frades, está a fechar a Martifer Componentes. São também às dezenas os fornecedores que na região se queixam de serviços e matérias primas fornecidos de que não obtiveram pagamento da Martifer.
Então é este o “parceiro idóneo” que o Governo escolheu para gerir os Estaleiros Navais de Viana do Castelo?
Perante a gravidade da situação, de atropelo grosseiro à lei, o Grupo Parlamentar do PCP na Assembleia da República, vai amanhã mesmo requerer aos Ministros da Economia e do Trabalho e da Segurança Social, que prestem todos os esclarecimentos sobre a situação dos trabalhadores da Martifer Componentes e dos outros trabalhadores do Grupo ameaçados de despedimento.
Ao mesmo tempo que denuncia estas práticas, só possíveis pelo estímulo que o governo das troikas dá à exploração dos trabalhadores por parte dos grandes grupos económicos, o PCP apela aos trabalhadores da Martifer para que se juntem à Manifestação convocada pela CGTP, para o dia 14 de Junho, no Porto, exactamente para acabar com a política de direita e exigir a demissão deste Governo, que destrói o país e empobrece os portugueses para fazer “negócios” chorudos e enriquecer os poderosos.
Viseu, 5/06/2014