Por iniciativa da Comissão Inter-concelhia Nelas/Carregal do Sal do PCP, cerca de 70 camaradas e amigos da Organização Regional de Viseu, efectuaram no passado Domingo, dia 5 de Junho, uma visita ao Forte de Peniche.
A receber a comitiva estava o camarada Adelino Pereira, ex-preso político no Forte de Peniche, que guiou a visita.
Partindo do seu conhecimento directo das instalações e das duras condições a que os presos políticos, sobretudo os membros do PCP, estiveram sujeitos naquele cárcere da ditadura fascista, o camarada foi comentando em cada espaço de paragem, aspectos relacionados com a repressão e tentativas de humilhar e de quebrar a determinação dos presos, em paralelo com exemplos concretos da luta organizada dentro da prisão, que fortalecia a vontade colectiva de desafiar os esbirros do regime. Para os comunistas, estar preso não significava abandonar a luta.
Iludir a vigilância dos carcereiros para passar informação em finas mortalhas de cigarro ou em toques codificados dados nas paredes, entre a organização do Partido. Fazer entrar na prisão gramáticas de português e livros de matemática dissimulados em revistas banais, com os quais presos ministravam instrução escolar a outros presos que a não tinham. Aproveitar as visitas das famílias para enviar e receber notícias conspirativas e denunciar as condições de vida dos prisioneiros, foram narrativas que prenderam vivamente a atenção dos visitantes.
As celas insalubres, os espaços de recreio exíguos, o famigerado “segredo”, o super vigiado “parlatório” a omnipresença repressiva dos guardas, a censura ao correio, nada disso apagou o profundo sentido humanista daqueles revolucionários, espelhado na beleza e ternura dos coloridos postais manufacturados mostrados pelo Adelino, que do Forte de Peniche enviam às suas crianças.
Uma vez presos, fugir da prisão, fosse ela ou não de alta segurança, era outra tarefa que os comunistas impunham a si próprios. Vários o fizeram daquele aparentemente inexpugnável Forte. Valdez, Chico Miguel, Jaime Serra, Dias Lourenço conseguiram-no, sendo o êxito das suas fugas diverso. Mas foi a fuga de 3 de Janeiro de 1960, na qual 10 dirigentes do Partido, entre os quais o camarada Álvaro Cunhal, se evadiram do Forte de Peniche, a mais célebre e importante de todas.
Após a refeição da noite daquele dia 3 de Janeiro, tudo começou a tomar forma, depois do actor Rogério Paulo, que, como combinado, abriu a porta da bagageira do seu carro, no Largo fronteiro ao Forte, sinal de que no exterior tudo estava pronto.
Partindo do exacto local onde a fuga se iniciou e que contou a partir daí com a colaboração de um GNR de vigilância ao Forte, o camarada Adelino Pereira conduziu-nos pelos caminhos percorridos no interior até ao local da muralha em que os evadidos tiveram de utilizar os lençóis das camas como cordas para descerem os cerca de 8 metros de parede até terra firme e daí ultrapassar um último muro até chegarem ao terreiro onde os esperavam os carros que os conduziram para diferentes lugares seguros. Foi uma tremenda vitória do Partido e da luta do povo português com repercussões históricas e uma humilhante derrota para o fascismo e para a sua máquina repressiva.
Esta visita foi uma lição de história inesquecível, a provar que a ditadura e o fascismo existiram mesmo em Portugal, apesar de todas as campanhas passadas e em curso para o negar e que existiram em Portugal patriotas e organizações políticas, com o PCP à cabeça, que, pagando um alto preço em vidas, sofrimento e privações, combateram sem tréguas, dando um contributo inigualável para a derrota do fascismo e o caminho de progresso aberto com a Revolução do 25 de Abril.
Dar mais dignidade e um tratamento condigno àquele símbolo vivo da repressão e da luta anti-fascista é o mínimo que se pode exigir ao Governo e ao Estado Português.
Viseu, 6/06/2016
A Comissão Inter-Concelhia Nelas Carregal do Sal do PCP