Senhor Presidente
Como aqui já transmiti várias vezes, leio sempre com atenção e até com algum prazer as suas dissertações sobre a actividade municipal.
Frases como: “A democracia é o poder do povo segundo princípios de legitimidade, justiça, bem-comum, organização e proporcionalidade”, deixam-me de boca aberta, por traduzirem conceitos filosóficos de grande alcance que aprecio por formação e me remetem para os brilhantes filósofos da Revolução Francesa.
Outra atitude que aprecio no seu texto, é o esforço permanente que o senhor faz para nos convencer da bondade e da relevância das medidas que o seu executivo toma. É um sinal de respeito pela oposição, sem dúvida, não deixando de ser, simultaneamente, um sinal de dúvida, de que nem todos compreendam o alcance e dimensão do trabalho que está a ser desenvolvido.
É um facto. Pois se as prioridades do município são o desenvolvimento económico, o investimento privado e a internacionalização do concelho, é natural que se pergunte: e em que lugar deste elenco de prioridades entram as pessoas?
Sabe senhor presidente, tenho para mim que o município tem prioridades a mais, se bem que elas vão mudando conforme as sessões de show off que diariamente nos oferece. Pois num dia a prioridade é a educação, noutro o centro histórico, noutro a diáspora, e ainda amiúde entram também neste lote as acessibilidades rodo/ferroviárias, o aeródromo e por aí fora. É muita prioridade junta senhor presidente. Com este frenesim de propostas e novidades uma pessoa nem tem tempo para apreciar devidamente as virtualidades de cada uma delas.
Vindo a talhe de foice, pode informar-me sobre quantos contratos de investimento foram celebrados com os nossos empresários da diáspora? Estou curiosa por saber o que nos vai propor aquele da Costa do Marfim.
Sendo este o órgão deliberativo municipal espero que o senhor nos traga aqui hoje os resultados e propostas do debate realizado sobre o Centro Histórico, iniciativa que tanto orgulho lhe dá. Não basta debater, como bem sabe, é necessário ouvir com atenção e dar provimento às propostas que forem feitas, condensando-as num todo coerente. Lançar um debate que sirva apenas para legitimar ideias pré-concebidas e apriorísticas do município, já o disse, seria uma decepção para os viseenses. O caso do Mercado 2 de Maio, infelizmente, é um exemplo que me deixa com muitas preocupações.
Outra iniciativa de que muito o senhor falou nesta semana, foi a do lançamento do Orçamento Participativo, que à falta de um auditório municipal condigno, foi apresentado nas escadarias da Câmara. Senhor presidente, ao ler o que foi dito relativamente ao Regulamento, fiquei com a estranha sensação de que estávamos na presença de uma espécie do jogo “Caça ao Tesouro”, em que os cidadãos são desafiados a descobrir um lugarinho, uma esquina, um pátio do Centro Histórico ou bairro adjacente onde se possam gastar 75 mil euros. É apenas uma sensação.
Sobre o Congresso da Agricultura Familiar, um amigo meu, que é agricultor, brincou com o caso, afirmando que foi mesmo “familiar”, não foi é de agricultores, daqueles que constituem a maioria esmagadora das explorações agrícolas do Concelho. É como essa incongruência, da Câmara ter como parceiro estratégico para a agricultura a Associação dos Criadores de Gado da Beira Alta e não constar em nenhum documento da autarquia, sequer a intenção de desenvolver qualquer diligência para a construção do Matadouro Público de Viseu. Uma infra estrutura imprescindível para o escoamento da nossa produção pecuária e a elevação do rendimento dos agricultores. Enfim, opções de classe.
Sobre os muitos regulamentos e criação de empresas de que fala e que hoje compõem a ordem de trabalhos, darei a minha opinião na altura própria.
E não termino sem fazer uma nova citação do seu documento informativo: ”O Executivo Municipal não hesita na sua opção de combinar pensamento, discurso, acção e diálogo”. Faltou acrescentar, senhor presidente: “E sem o destaque de uma notícia diária, nos jornais locais e nacionais”. Afinal é para isso que servem os gabinetes de informação e imagem.
Viseu, 30 de Junho de 2014.
A Eleita da CDU
Filomena Pires