Aterro Sanitário de Bodiosa
Foram inaugurados no dia 26 de Julho de 2019 dois “Ecopontos florestais” no Concelho de Viseu, um em Oliveira de Cima, Bodiosa, o segundo em Cepões.
Regozijava-se então o Sr. Presidente da Câmara Municipal com o pioneirismo da instalação. A iniciativa até parecia interessante, exequível, amiga do ambiente e dos pequenos e médios produtores. Porém, nem tudo é o que parece à primeira vista. Segundo as palavras do administrador da Central de Biomassa, proferidas na inauguração de Bodiosa, o objectivo é que estas estruturas surjam por todo o concelho e noutros pontos do país e que passe a ser obrigatório, através de legislação a criar, que as pessoas deixem de fazer queimas de sobrantes e transportem os resíduos para estes ecopontos.
Aterro Sanitário de Cepões
Logo na altura a CDU chamou a atenção do município para a prepotência da pretensão e a incoerência do projecto. Destinando-se os Ecopontos à recolha dos sobrantes e resíduos provenientes da limpeza das matas e de terrenos de cultivo pelos agricultores e pelos produtores florestais, o município destina as mais-valias daí resultantes para as juntas de freguesia e para a Central de Biomassa, indústria que por esta via beneficia de matéria-prima com pouca despesa.
Como então evidenciamos, este projecto estava condenado ao fracasso, uma vez que aos produtores agrícolas e/ou florestais estavam apenas reservados despesas e trabalhos sem nenhum retorno. Alugar o tractor e reboque ou utilizar o próprio, cortar a vegetação, carregar o material, transportá-lo até ao Ecoponto, descarregar o material, regressar até à exploração, implica gastos que não estão equacionados neste processo. Nem as cinzas resultantes da incineração do material lenhoso são devolvidas aos agricultores para fertilização biológica das suas terras, como então propusemos. Ao agricultor/produtor florestal cabe a despesa, à Junta de Freguesia e à Central de Biomassa os benefícios financeiros. Sabendo todos que a maioria dos produtores são pessoas idosas, óbvio se torna que para eles é mais fácil e mais barato pedir autorização para queimar os resíduos nas suas terras, em vez de os levar ao Ecoponto.
E assim está a acontecer. Passados 6 meses os “ecopontos florestais” estão às moscas. Pior, muito pior. O que prometia ser uma medida inovadora e ecologicamente avançada, transformou-se num grave atentado ambiental. Os ecopontos florestais transformaram-se em “ilegais lixeiras a céu aberto”. São evidentes nas fotografias que juntamos, que os materiais depositados nestes ecopontos, nada têm a ver com a floresta: móveis partidos, eletrodomésticos, chapas de alumínio, telhas, sacos plásticos, etc, etc.
Aterro Sanitário de Cepões
Tirando o material vegetal resultante da limpeza do espaço onde foram implantados os “ecopontos” suspeita-se que pouco ou nenhum outro material receberam, o que se compreende, pois, os agricultores e produtores florestais das freguesias em questão não têm recursos para transportarem até lá os restos das podas e limpezas de terrenos e florestas, mesmo que o Presidente da Câmara os queira obrigar.
Curioso até verificar que no “aterro sanitário de Cepões”, como, mais uma vez, comprovam as fotografias, há deposições de material vegetal que ficou “à porta” enquanto os eletrodomésticos e outra quinquilharia estão lá dentro. Significa também, que os horários de funcionamento dos ecopontos não correspondem às necessidades dos “corajosos” que os pretendem utilizar.
Outra dúvida que importa esclarecer, é saber se a central de biomassa vai “queimar” o que estes “ecopontos” guardam. Se o fizer podemos questionar que tipo de “central de biomassa” é essa e que qualidade para o ambiente terá a eletricidade que produz (que deveria ser limpa).
Aterro Sanitário de Cepões - material vegetal depositado fora do aterro
Aquilo que parecia ser uma ideia arrojada para fornecer matéria-prima a baixo custo a um empresário da região, está a transformar-se num grave atentado ambiental. Isso acontece porque não foram ouvidos os directamente interessados (agricultores/produtores florestais) e apenas se pensou nos benefícios financeiros da Central de Biomassa. Sabendo-se dos milionários subsídios que a Central de Biomassa está a receber do Estado e da União Europeia, é sua obrigação organizar a recolha dos sobrantes até os Ecopontos e daí para a Central, sem custos para os produtores florestais e agricultores.
Por fim, é impreterível que os serviços do Ministério do Ambiente fiscalizem estes Ecopontos, cuja utilização actual não foi licenciada.
Viseu 12/02/2020
Gabinete de Imprensa da Comissão Concelhia de Viseu do PCP