Realizou-se, dia 19 de Janeiro, na Sede da ANCRA em Cinfães, promovida pela Comissão Concelhia de Cinfães do PCP, uma reunião com cerca de 100 agricultores do concelho, dedicados à produção de bovinos da Raça Arouquesa, no sentido de fazer um ponto da situação sobre os prejuízos causados por alcateias de lobos. Armando Nogueira, responsável pela Comissão Concelhia de Cinfães do PCP, presidiu à Reunião. Em representação do Grupo Parlamentar do PCP esteve o Engº Agostinho Lopes, do Comité Central e da Comissão Nacional de Agricultura. Convidados, compareceram os Presidente e Vice-Presidente da ANCRA, o Vice-Presidente da Câmara M. de Cinfães e o responsável regional do PCP, João Abreu.
Agostinho Lopes começou por dar conta das perguntas feitas ao Ministério da Agricultura e ao Ministério do Ambiente pelo Grupo Parlamentar do PCP, em Outubro passado, a que o Governo deu uma resposta insuficiente e evasiva.
Os produtores presentes assinalaram a manutenção no fundamental dos problemas. Luís Teles, Presidente da Junta de Freguesia de Alvarenga e produtor deu conta da transferência da sua vacada de mais de cem animais, da região para o Alentejo, por esta ter sido atacada vários vezes, com dezenas de reses mortas e por falta de garantias de que a situação ia ser resolvida! Mesmo tendo sido pagas algumas indeminizações, continuam os atrasos, além de que o ICNF diz que não paga animais mortos fora de áreas confinadas – áreas não vedadas e baldios! Noutros casos não pagam porque consideram que os produtores não têm os cães suficientes. Acresce, como foi dito pelo Presidente da ANCRA, que os atrasos nos pagamentos significam que os produtores não podem repor com prontidão os seus efectivos, arriscando-se a perder os subsídios (RPU) a que têm direito, pois a legislação só permite esse vazio durante 15 dias! Já houve agricultores penalizados por estes factos.
A solução avançada pelo ICNF é que os produtores vedem as suas parcelas e leiras com redes de malha inserida no solo (enterradas 50 centímetros). O que é uma manifesta impossibilidade e um absurdo para explorações que desde sempre foram confinadas com os respectivos e tradicionais muros ou renques de árvores e arbustos. Além de que estando algumas em áreas da Rede Natura 2000 tal é proibido! A situação actual, além de um exigente e atento pastoreio nas 24 horas do dia, criou já também receios de possíveis ataques a seres humanos! De forma séria, agricultoras presentes na reunião afirmaram: “Hoje, eu tenho medo de levar as minhas ovelhas, as minhas vacas ao pasto!”
Entretanto o ICNF, não faz o que lhe cabe fazer, nomeadamente o recenseamento, monotorização e o controlo das populações de lobos e das alcateias. Por exemplo, o ICNF fala em duas, Montemuro e Arada, mas há quem tenha detectado pelo menos três alcateias. O que certamente resultará da falta de recursos humanos e meios para o exercício das suas funções! Sabe-se, por exemplo, da falta de verbas para o gasóleo dos veículos em que os técnicos se deslocam!
O problema é bem conhecido dos serviços do ICNF e da Direcção Regional de Agricultura do Norte, como referiu o Sr Vice-Presidente da Câmara e o Presidente da ANCRA, que referiu a carta Manifesto que a ANCRA entregou aos técnicos do ICNF a 11 de Novembro passado, com um conjunto de 9 reclamação para se “encontrar uma solução viável quer para a vida selvagem quer para a criação e manutenção da Raça Arouquesa e dos Pequenos Ruminantes”!
A fechar a reunião o PCP anunciou que iria tomar novas iniciativas na Assembleia da República para pressionar a urgente tomada de posições e medidas por parte do Governo. Foi ainda salientada a importância da continuação da intervenção dos órgãos municipais, da ANCRA e da própria luta dos agricultores, para a resolução do problema de forma a defender os interesses da lavoura e da economia do concelho e da região.
Não é aceitável que queiram ter os lobos na Gralheira e no Montemuro, e depois não se responsabilizarem por todos os custos dessa situação criada pelo ICNF segundo as orientações dos governos, procurando transferi-los para os produtores! Não é aceitável, não tomarem todas as medidas necessárias para prevenir e evitar os problemas causados pelas alcateias de lobos que lá implantaram!
A não ser que pretendam substituir a produção da Raça Arouquesa (e de outra produção pecuária), pela expansão das alcateias, fazendo do Montemuro “um santuário do lobo ibérico”! Mas então, têm também de explicar, o que fazem às pessoas que vivem nas aldeias destes concelhos serranos!