Vejamos os factos.

Viseu é a maior cidade média europeia sem transporte ferroviário.

Anos a fio, os ramais ferroviários de via estreita do Dão e do Vale do Vouga, contribuíram para engrandecer e fortalecer o comércio de Viseu, facilitaram o acesso das populações, dos estudantes e dos trabalhadores à capital do distrito, permitiram o transporte de mercadorias e bens necessários à vida comunitária da região. O Vouguinha foi mesmo um dos melhores cartazes turísticos do país.

O PSD enquanto governo e Cavaco Silva enquanto primeiro-ministro foram os responsáveis pelo fim do Comboio em Viseu, com o pretexto de que o serviço efectuado não era rentável. Numa visão puramente economicista, insensível aos protestos das populações, sem olhar aos prejuízos sociais, a lembrar os dias de hoje, as duas linhas foram desactivadas, pondo fim ao serviço público que prestavam. Em substituição, a CP ofereceu por um breve período, transporte rodoviário que nunca constituiu verdadeira alternativa.

 

Em todo este processo, foi o PCP quem se debateu para que Viseu não perdesse as ligações ferroviárias. Em Junho de 1986 e em Março de 1990 apresentou projectos de lei, na Assembleia da República, para que fossem «adoptadas medidas tendentes a suspender o encerramento de linhas, ramais e estações e à definição das condições a que deve obedecer o dimensionamento da rede ferroviária nacional». Importante foi igualmente a intervenção, de entre outras, realizada no Plenário da Assembleia da República, em Maio de 1988, aquando da implementação dos novos horários de verão, denunciando ser o desajustamento dos mesmos em relação aos interesses dos utentes a forma de degradar a oferta, com o objectivo de, mais facilmente, o Governo proceder ao encerramento de linhas, ramais e estações. A 5 de Janeiro de 1994, o PCP apoiou incondicionalmente a petição n.º 64/VI (1.ª), que solicitou à Assembleia da República que fossem tomadas providências para que fossem reinstalados e reactivados os ramais ferroviários de via estreita do Dão e do Vale do Vouga. Em 2005 o candidato presidencial Jerónimo de Sousa esteve em Viseu para defender o regresso da ferrovia à cidade. Dada a situação geográfica e a importância de Viseu no contexto do país e da região centro, foram defendidas três frentes para a resolução do problema: a ligação de Viseu à Linha da Beira Alta; a reactivação da Linha do Vale do Vouga como transporte regional do tipo “metro de superfície”, eventualmente com a viabilização reforçada por exploração turística; a defesa do eixo Aveiro-Salamanca (via Viseu) para os transportes internacionais ferroviários, equacionando-se a solução TGV. A 30 de Março de 2011, o PCP apresenta na Assembleia da República o Projecto de Lei nº 618/XI – 2ª, que “Garante a ligação ferroviária à cidade de Viseu”. Ao contrário de outros, o Partido Comunista Português foi o único que materializou em iniciativas parlamentares a sua luta de sempre pela ligação ferroviária a Viseu.

Ao longo dos anos, os partidos com responsabilidades governativas, PS, CDS e PSD, nunca definiram com clareza uma posição sobre esta matéria: ora sim, ora não, ora talvez, agora alta velocidade mas logo a seguir se verá…

Nesta como noutras matérias de interesse para a região, o PCP sempre se manteve coerente e consistente na defesa dos interesses das populações da região de Viseu. Um verdadeiro crime foi perpetrado quando o governo PSD encerrou o serviço. Crime foi também a Câmara Municipal de Viseu ter ordenado a demolição da estação ferroviária da cidade, um valioso património municipal de reconhecido valor histórico-sentimental, que poderia servir de palco a variadíssimas manifestações de interesse cultural ou de outra índole. A região muito tem perdido em consequência desse atentado social, económico e cultural.

Para surpresa nossa, depois do crime consumado, de anos de conivência, contemporização e passividade, eis que todos os partidos querem “apanhar o comboio”. Sejam bem-vindos!

João Abreu

Texto publicado na Gazeta da Bera de 13 e Março