O período eleitoral que vivemos tende a conotar tudo o que possamos dizer, com intenção deliberada de propaganda partidária. É nessa bitola que tem de ser enquadrado o diferendo do senhor presidente da Câmara de Viseu com o actual Governo, a propósito das obras na Escola Grão Vasco e do hipotético não pagamento por este das comparticipações acordadas. Pelo que tem sido tornado público não se percebe quem tem razão, se a Câmara se o Governo. Mas, já sobre as obras e a falta delas na Escola Grão Vasco, seria bom revisitar as actas desta Assembleia. Uma primeira em que a CDU propôs à Câmara assumir o financiamento provisório, como solução para desbloquear o impasse nas obras, proposta, apelidada, na ocasião, de “insensata” e “ilegal”. E uma acta posterior em que a Câmara se ufana da sua “audaciosa e pioneira decisão” de avançar com o financiamento, exactamente “para não se esperar mais tempo pelo financiamento comunitário e governamental”.
Criar a Escola Municipal de Natação é sem dúvida uma medida louvável. A pergunta prende-se com saber, porque razão não assumem os clubes que praticam essa modalidade a responsabilidade pela dinamização da Escola? Está na vocação do Município criar escolas de desporto? Então o virtuosismo do associativo desportivo que tem mais de 4.700 atletas federados não tem capacidade para gerir uma Escola de Natação? Ou será que a Câmara não disponibilizou as condições financeiras e logísticas para serem os clubes a agarrar a iniciativa? Não basta ter 12 mil utilizadores por mês das piscinas municipais, é fundamental saber que condições em equipamentos lhes são disponibilizadas. Lembrava, de novo, que o Concelho não dispõe de uma piscina olímpica pública, onde os atletas federados possam treinar sem restrições para melhorar os seus resultados desportivos.
Regozija-se na sua informação com o pioneirismo da instalação dos dois primeiros ecopontos florestais no Concelho. Dito desta maneira a iniciativa até poderia parecer interessante, exequível, amiga do ambiente e dos pequenos e médios produtores. Porém, nem tudo é o que parece à primeira vista. Segundo as palavras do senhor Carlos Alegria, pretende-se que estas estruturas surjam noutros pontos do país e que passe a ser obrigatório, através de legislação a criar, que as pessoas deixem de fazer queimas e transportem os resíduos para estes ecopontos. Quer isto dizer que se pretende, havendo alternativa para deposição dos resíduos agrícolas e/ou florestais, proibir de uma vez por todas as queimas de sobrantes.
Os valores resultantes destas recolhas serão, segundo Carlos Alegria, entregues às Juntas de Freguesia e nunca serão muito elevados - ”não esperem que seja muito” - referiu durante a inauguração do Ecoponto de Bodiosa. Mas pergunta-se – e os produtores agrícolas e/ou florestais que compensação receberão pelos gastos que irão ter? Aluguer de reboque, carregar o material, transportá-lo até ao Ecoponto, descarregar o material, regresso até à exploração – tudo isto implica gastos que não estão contemplados nesta solução. As mais-valias vão para as juntas de freguesia e para o senhor Carlos Alegria, que terá matéria-prima para a sua indústria a custo ZERO. É caso para dizer: “Óh, Sr. Carlos, será uma ALEGRIA se tal vier a acontecer”.
Se a entrega de materiais nos ecopontos de lixo doméstico é voluntária, porque carga d’água os produtores agrícolas e/ou florestais têm que ser obrigados a trabalhar à borla para indústrias privadas?
Com tantas e tão magníficas qualidades, não tarda estamos a defender a deslocação para Viseu da alternativa ao aeroporto da Portela. O profusamente propalado Festival aéreo é que parece ter abortado a aterragem e sem explicação convincente foi voar para outros céus.
E ficamos todos a saber que o Centro de Operações de Mobilidade de Viseu, será um “terminal rodoviário dos mais evoluídos do mundo”. Em presunção não duvido, embora fique de pé atrás sempre que vejo alguém atribuir medalhas e títulos a si próprio.
O Viseu Arena (este nome sugere-me touradas) que era para já estar a funcionar desde 2018 trazendo à cidade mais gente do que a Feira de S. Mateus, vai um dia destes para concurso com investimento municipal, para depois a Viseu Marca gerir e beneficiar.
E porque não quero incorrer na falta de respeito pelos tempos (ou tampões?) do Regimento, termino com dois pedidos de esclarecimento:
1 – Porque razão o Senhor Presidente apenas se fez acompanhar à reunião com a senhora Ministra da Saúde, a propósito dos problemas no Serviço de Oncologia, dos presidentes das câmaras de Oliveira de Frades e Vouzela? Algum impedimento de agenda dos outros presidentes?
2 – A Ranstad sediada no Vissaium XXI, que classifica de empresa de “base científica e tecnológica”, será a mesma que todos conhecemos como alugadora e fornecedora de mão-de-obra barata?
Termino com um sentimento de satisfação pelo anúncio do projecto de obras para o Bairro Municipal. Arranjar portas e janelas em 8 casas, afinal era mesmo uma minudência e inutilidade, face às necessidades e exigências de uma intervenção global no Bairro, regeneradora de todo o edificado. O que nos vale é que as propostas e negações ficam em acta.
Viseu, 27/09/2019
A Eleita da CDU na Assembleia Municipal de Viseu
Filomena Pires